top of page

CHURRASCO na Laje

Churrasco Estrutural

Artigo de Opinião

A origem do churrasco no Brasil veio por meio dos povos indígenas habitantes das fronteiras que cortam o Rio Grande do Sul, o Uruguai e a Argentina. As carnes eram assadas em uma fogueira sobre pedras e madeiras e eles se reuniam em volta para consumir o alimento. Tal tradição foi moldada em diversas formas ao longo dos anos, criando-se diferentes culturas, dentro das estruturas sociais, assim como a do churrasco na laje.

O churrasco na laje tem forte presença nas periferias brasileiras, e seu nome resulta da referência do local usado para os encontros. As casas são construídas nos morros dos bairros afastados do centro da cidade pelas camadas mais pobres, devido à segregação socioespacial. O ambiente pode ser utilizado por toda a família, seja para brincadeiras de crianças, estender as roupas no varal, casinha do cachorro, abrigo da antena de tv e até da caixa d'água.

Quem frequenta o churrasco na laje são as pessoas comuns, a classe trabalhadora, os usuários de transporte público, a costureira, o gari, a faxineira, o vendedor ambulante... Ou seja, a parte da sociedade sobrecarregada com mais de 40 horas de trabalho semanais e, muitas vezes, impedida de seus momentos de lazer. Quando reunidos, cada morador colabora com um prato típico: arroz, farofa, molho vinagrete, queijo coalho, e o principal, a carne temperada. Assim, além da confraternização com muita cerveja gelada, pagode, funk e samba no pé, o churrasco é um movimento significativo de descontração e diversão. “Depois de uma semana cheia de trabalho, nada melhor do que estar com os meus amigos e a minha família… Ninguém fica triste em dia de churrasco”, brinca Ana Paula Vieira, costureira e moradora do Jatobá IV, bairro da regional Barreiro em Belo Horizonte.

 

Com o aumento no preço da carne e do desemprego, o consumo do alimento diminuiu entre as classes mais baixas. Segundo pesquisa realizada em junho de 2022 pelo banco BTG Pactual, 55% da população deixou de comer carne vermelha por causa da inflação dos últimos anos, o que impacta também na realização dos churrascos. “Antes, cada um contribuía com um pouco e levava sua cerveja. Hoje, até a compra básica para casa tem que dividir no cartão de crédito”, relata Nelson de Oliveira, garçom e morador do bairro Esplanada, região leste de BH.
 

Dependendo da classe social a que uma população pertence, até o que se parece um ato comum de compartilhar bons momentos é impactado pela estrutura desigual. Hoje, mesmo com a dura realidade, as pessoas não abrem mão do churrasco e buscam alternativas. A carne de boi é substituída pela carne de frango, a cerveja passa a ser a mais barata do mercado e os produtos escolhidos são aqueles em promoção, tudo para que a tão importante e celebrada reunião seja garantida.

IMG_1276.jpg

Como forma de demonstrar as emoções que envolvem o churrasco na laje e o que ele representa para as pessoas, decidimos acrescentar este áudio que, com humor, traz tudo isso. 

Sobre


From ghetto to laje:
a simbologia da moda periférica em volta do churrasco

A moda é um documento que acompanha e registra a trajetória de um povo. Desempenha papéis importantes na sociedade. É por meio das indumentárias que realçamos significados que dizem quem somos e de onde viemos, sendo importante, ainda, expressarmos mediante ao que usamos. E na periferia essa premissa não é diferente! 

 

É por meio de origem, trajetória e estilo de vida que se evidencia a moda presente nas favelas da sociedade brasileira. O estilo periférico, como se nomeia as roupas vestidas por quem mora em uma área à margem da cidade, tipifica a vestimenta de quem vive ali e parte de um lugar singular e perene, da arte.

 

Esse estilo de roupa tende a valorizar narrativas e anseios de quem o veste, e, acima de tudo, dá palco para diversidade, acessibilidade e tamanha personalidade, o que o difere da alta moda e do universo fashion luxuoso. “O que é muito comum nas regiões periféricas é possuir algumas características que nos trazem a proximidade com o grupo ao qual estamos inseridos. O mais presente nas pessoas dessa região demográfica é o sentimento de pertencimento, então quando analisamos superficialmente, acreditamos que todas se vestem igual, mas na verdade elas criam suas próprias narrativas das suas vivências individuais e em grupos”, explica o stylist e fashion designer, Pedro Birra. 

 

Retrata, ainda, costumes e comportamentos de minorias e preenche, ao longo do tempo, lugar imprescindível na vida das pessoas do gueto. E é com esses pontos que o estilo está, também, presente no lugar mais alto da favela: na laje! 

 

A laje é símbolo que muito diz da força, dos laços e dos saberes dos moradores da favela. É um espaço onde se pode construir e reverberar costumes sociais, culturais e considerar ações pontuais no tempo ocioso, e a partir daí surge o churrasco na laje. 

 

O churrasco na laje é uma forte tradição que se estabeleceu em todo o Brasil, especialmente em camadas mais pobres da sociedade, que caracteriza ideais e costumes dos moradores. Um evento que traz peças e estilos de roupas plurais que remetem a descontração, a alegria e o calor nesse momento de lazer. É o que afirma Pedro. “O churrasco na laje, assim como outros eventos presentes neste determinado grupo (moradores da periferia), é uma forma de diversão e para esse tipo de encontro a produção passa primeiro pelo conforto, então shorts, chinelos, são muito bem vindos”, diz. 

 

Dito isso, listamos algumas peças comuns vistas no churrasco na laje. A primeira delas é a camisa de time de futebol. A periferia tende a valorizar a figura da celebridade do futebol, enxergando nesses indivíduos uma representatividade da comunidade, pelo simples fato do jogador de futebol ter nascido lá. 

 

Outra peça carimbada do estilo da periferia e no churrasco na laje é o short jeans. Não há uma peça que esteja mais presente na vida do brasileiro, do que os shorts jeans. Usado desde ocasiões mais informais, até em lugares que pedem algo mais elaborado.

 

 

 

 

Lado a lado ao short jeans, o chinelo Havaianas (que nem sempre é da Havaianas), possui sua relevância no momento de lazer. O calçado sintetiza a simplicidade, uma atitude de relaxamento, de verão, de praia, um estado de espírito do Brasil. Por isso, tem sempre alguém usando-o como parte de um look ousado no churrasco na laje. 

 

Falando de ousadia, o biquíni de fita já é, quase, a irmã do shorts jeans, devido sua grande participação nos churrascos da periferia! Coloridos ou não, tradicionais ou 'diferentões', a técnica de pregar fitas nas partes íntimas em forma de biquíni ou sunga já é uma trend nas lajes. E com a indústria musical, popularizado para além da favela por Anitta no clipe de 'Vai, malandra', tal técnica já é marca registrada na moda da favela. 


A cantora está entre os artistas brasileiros que saíram da periferia e continua mostrando com clareza, roupas e práticas que são comuns nas comunidades. Em Vai Malandra, clipe gravado em 2017 no Morro do Vidigal, podemos encontrar o famoso bronze na laje, que faz parte da rotina de muitos moradores da periferia. Basta ter uma laje, uma fita adesiva e algo para se deitar. Pronto, agora é só esperar o sol concluir o resto!

IMG_1324-Editar.jpg

Com referência e muita representatividade, Ludmilla é outra artista que aposta em looks baseados na moda periférica. Nascida e criada em Duque de Caxias, a cantora e suas bailarinas no clipe Rainha da Favela, gravado em 2020 na Rocinha, Rio de Janeiro, trouxeram peças de roupas bastante comuns em churrascos na laje.

arte site keven.png

E já o cantor e ator, Mc Cabelinho em seu videoclipe da música Little Hair, gravado no Morro da Caixa d'Água, com Felp 22 e Xamã, faz uma releitura do churrasco na laje, além do estilo visto no gueto. 

O fato é que o estilo periférico conquistou o seu lugar tanto no universo da moda quanto no meio artístico, e, desde então, possui interferência na indústria musical graças as suas características. Da mesma maneira que a indústria possui lugar referencial para quem sempre teve tão pouco acesso. E é neste movimento de conversão de influências que se completa um processo cultural, rico e cíclico, que se sobressai e se pode ver perfeitamente no churrasco na laje.

Não existe estilo musical certo para o churrasco na laje, mas há alguns que não podem faltar para essa festa rolar. Do pagode ao funk, do sertanejo ao rap, a música brasileira está como favorita e resta identificação para todos os participantes do churrasco. Dito isso, foi pensada e desenvolvida uma playlist que realça a energia e pluralidade sonora presente nesse espaço.

De quebra, terminamos com a produção de um curta-metragem representando o churrasco na laje. Nele trazemos as principais características que comporta o evento: pessoas se divertindo, música de diferentes ritmos, looks incríveis, muita cervejinha, e claro, a favorita comida típica. De certa forma, o curta mostra que a junção de tudo que compõe o churrasco na laje é o aglomerado artístico e, por isso, esse encontro se torna tão essencial e importante para os brasileiros.

Produção

Produção:

Amanda Gonçalves

Ana Clara Souza

Caio Henrique

Júlia Thais

Katarine Serafim

Keven Souza

Luiza Canesso

Millena Vieira

Paulo Vieira

Pedro Almeida

Fotografia:

Jessi Goes

Audiovisual:

Amanda Luz

Locação:

Amanda Gonçalves

Edição:

Girino Arte

bottom of page